Somos assim: somos o que pensamos, o que sentimos...e somos acima de tudo, aquilo em que acreditamos!
Nossos ídolos são nossos espelhos...refletem nossa alma, e nos levam ao encontro de nossos desejos, nossos sonhos, nossas fantasias, nosso eu mais profundo...e nos tornam muitas vezes mais fortes, porque acreditamos neles!
Somos assim: sedentos por nos apaixonar, por acreditar, por nos sentir vivos...e é isso que nos torna seres tão incrivelmente sedutores e apaixonantes!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Menos um

Terminou a parada, cada um pro seu lado, os home no encalço.
Havia uma pedra no seu caminho, no seu caminho havia uma pedra.
Já na delegacia, machucado pelas "pedras" do caminho, tinha que dar o serviço. Seu silêncio custaria muito caro.
Depois de alguns dias, algumas escoriações, fraturas, e traumas, estava de novo nas ruas. Entregue a própria sorte. Sorte seria se tivesse tempo de falar do que não foi falado.
Não teve.
O projétil, sem origem certa, tinha destino certo, certeiro. Veio num zunido, e com um filme, que em segundos o faria voltar ao passado. O seu, a única coisa da qual tinha a posse.
Lembrou-se das peladas no campinho, ao lado do lixão. Da primeira namorada, dos beijos quase sempre roubados, como tantas outras aquisições ao longo de sua pequena história. Lembrou-se do primeiro porre, o primeiro de muitos outros que vieram, seguidos de muitos outros deslizes. Baseados, carreiras, cachimbos, alucinantes, alucinados, alucinóginos.
Lembrou-se da velha mãe surrada pelo velho pai, surrado pelo filho, que era surrado pelo nada da vida. Que de tão cansados, (pai e mãe), ainda sentiam pena daquela pobre vida perdida. Lembrou-se do filho...um projeto ainda. O primeiro de uma vida.
Nenhuma lágrima, nenhum arrependimento.
Apenas um suspiro, o último. Aliviado.
Menos um.

As cores do meu desenho



Pintaram de azul meu infinito,
o espaço onde bato minhas asas,
onde lanço meu grito,
onde me faço, me desfaço, descompasso,
e descanso dos meus fiascos.

Pintaram de rosa minha infância.
Minhas memórias são pink e punk,
infantis e infantes,
fragmentos de instantes, de momentos,
prontamente em posição de sentido!
Ou sem.
Sentido.

Pintaram de marrom o meu chão.
Minha raiz, meu pé, minha diretriz.
Um quase negro, quase escuro, obscuro,
mais vivo do que morto,
mais terra fofa do que cova funda.
Mais chão do que abismo.
Mais eu do que eu mesma.

Pintaram de verde minha esperança.
O verde da minha verdade, que acredita,
o verde da minha saudade, que espera,
o verde que eu quero ver,
antes que de amarelo se pinte,
e deixe de ser.

Pintaram de amarelo o meu sol.
Meus raios, meus fragmentos,
pedaços dos meus ais e lamentos,
amarelo, meu ouro,
amarelo, meu tesouro.
Amarelo de mim, energia cósmica.
Em mim.

Pintaram de vermelho minha paixão.
Pulso que pulsa em mim.
Sangue que ferve, veias que saltam.
Meu carmim.
Fogo, explosão, confusão.
Vermelho tenso, intenso,
vermelho insensato,
vermelho que seduz e induz.
Vermelho de fato.

Pintaram de preto meu pensamento.
Meu tormento e meu desalento,
negros são.
Como negras são as memórias passadas,
da história surrada, das surras levadas,
pela negra verdade,
pelo negro juízo,
do que é negro, sem que negro se pareça.
E, o que de fato negro é,
a pele, a cor, a raça,
maltratos traz de herança, e de graça,
pela negritude cruel da raça.
Humana!

Pintaram de branco minha paz.
Minha fé, meu sossego, minhas vontades,
meus desejos.
Brancas são as manhãs de chuva,
brancos são os dentes entreabertos do contento,
brancos são meus sentimentos.
Puros ou impuros,
livres ou isentos,
mas brancos apenas pela ausência do preto,
pela alva aparência do que em mim se desenha.

E de muitas cores pintaram minha história.
Só esqueceram de colorir minha palidez.
O transparente sem graça do talvez.
O não sei, o quase nada, o mais ou menos,
melhorado, mas nunca acabado.
O inseguro, insensato, inconstante,
o nunca de fato, mas sempre sem razão.
De ser.
Não obstante.