Somos assim: somos o que pensamos, o que sentimos...e somos acima de tudo, aquilo em que acreditamos!
Nossos ídolos são nossos espelhos...refletem nossa alma, e nos levam ao encontro de nossos desejos, nossos sonhos, nossas fantasias, nosso eu mais profundo...e nos tornam muitas vezes mais fortes, porque acreditamos neles!
Somos assim: sedentos por nos apaixonar, por acreditar, por nos sentir vivos...e é isso que nos torna seres tão incrivelmente sedutores e apaixonantes!

segunda-feira, 12 de março de 2007


NEM MORTO!

Seguindo os dogmas do catolicismo, estamos na quaresma...tempo de reflexão, de arrepender-se dos maus feitos, de fazer penitência. Apesar de não guardar os sagrados e dolorosos 40 dias, esse, também é, para outras religiões cristãs tempo de oração, introspecção, tempo de reviver o sofrimento de Jesus, e as esperanças da sua Ressurreição!

Maaaassss, como é comum nessa nossa vidinha sem graça, uma coisa leva à outra, que leva à outra, que muitas vezes, nos leva à lugar nenhum.

E de repente, me peguei pensando em situações que nada têm a ver com o assunto, e ao mesmo tempo, têm tudo a ver! Vai entender!

Primeira situação:

Um figurão da "alta auta sociedade", isso mesmo, "alta" por que está no topo, e "auta" porque acha que se basta. Morreu, bateu as botas, passou dessa prá uma melhor, feneceu...pensando bem, esquece o feneceu, é poético demais pra´um figurão, esticou as canelas! Melhor assim!

Mas vamos lá, vamos ao derradeiro velório. Tem coisa mais intrigante e instigante do que um velório? Se você nunca parou prá observar, o faça no próximo em que estiver...se bem que eu não lhe desejo que esteja em um tão cedo! E vamos à situação, que as idéias já me estão a fenecer...

Família reunida, viúva aos prantos, filhos inconsoláveis, amigos, funcionários, amigos dos amigos, amigos dos filhos, todos muito consternados, tristes mesmo...lencinhos (de papel) em punho, óculos escuros, nada de deixar à mostras as olheiras, ou a falta delas!

E o morto lá, descansando em paz!

Pouca ou nenhuma criança, sei lá, esse povo não leva criança nesses lugares, elas sonham depois, dão um trabalho! Sem contar que ficam fazendo perguntas, deixa as crianças no play!

E os comentários? Bem pertinho do caixão:

"Coitado, tão bom, tão cheio de vida, um pai exemplar, um marido carinhoso, um patrão justo, ah, que sua alma descanse em paz!"

E mais afastado um pouco:

"Será que ele fez testamento?" "E a amante, será que vem? Safado!" "Carrasco FDP, já foi tarde!"

E o morto lá, descansando em paz!

Segunda situação:

Um empresário de médio porte, a famosa classe média, média alta, prá valer a pecha de mediano, medíocre, nem la´nem cá!

Situação parecida, a viúva chorosa, menos um pouco, mais comedida, mais conformada, filhos tristinhos, amigos dos filhos solidários na dor, colegas de trabalho, amigos, alguns empregados, alguns credores(claro, não se deve perder oportunidades), todos tristes, solidários com a família!

E o morto lá,descansando em paz!

Algumas crianças, bonitinhas, cabelinhos arrumadinhos, roupinhas engomadinhas, comportadinhas, e quando não, debaixo dos olhos atentos dos progenitores! "Nada de me fazer passar vergonha, heim?"

E os comentários?

De pertinho:

"Coitado, foi tão cedo!" "Era tão trabalhador!" "Um homem tão honesto!" "Parece que ele deixou a família amparada, né?" Mais afastado: "Será que a história da outra família é verdade? Coitada da viúva!" "Ouvi dizer que devia até os fundilhos!" "Vai ter festa no escritório!"

E o morto lá, descansando em paz!

Terceira situação:(e última, eu juro!)

Um pobre diabo, sem ter onde cair morto...literalmente, velório feito com dinheiro emprestado por parentes, ou amigos, detalhe...velado em casa, que sai mais barato...a viúva ora chora, ora cuida dos comes e bebes(sim, velório de pobre tem lanchinho, tem rango!), claro, sempre amparada pelas fiéis comadres, que vez ou outra deixam de lado a situação que as trouxe ali, prá falar da outra comadre que foi chifrada pelo FDP do marido, ou da vizinha que dá em cima do SEU marido!

Do lado de fora, a ala masculina, nossa, eles contam causos, contam piadas, falam alto, riem...chega muitas vezes a parecer que se está numa festa! E crianças, muitas crianças, todas livres, leves e soltas...vez ou outra se houve a intervenção indispensável de alguém: "Desce daí moleque! Ó o respeito com o defunto!" ou "Tira a mão daí, seu peste!".

E os comentários, perto ou longe, não importa:

"Esse era safo, deixou duas famílias, gozou até a morte e deixou as duas na miséria!" "Esse era caba macho, vivia com o trêis oitão na cintura, ninguém tirava farinha com ele!" " Esse aí era um safado, morreu devendo seis meses de aluguel!"

E o morto lá, descansando em paz!
Espera aí...eu disse "descansando em paz"? Ah, fala sério!
NEM MORTO!!!!!!