Somos assim: somos o que pensamos, o que sentimos...e somos acima de tudo, aquilo em que acreditamos!
Nossos ídolos são nossos espelhos...refletem nossa alma, e nos levam ao encontro de nossos desejos, nossos sonhos, nossas fantasias, nosso eu mais profundo...e nos tornam muitas vezes mais fortes, porque acreditamos neles!
Somos assim: sedentos por nos apaixonar, por acreditar, por nos sentir vivos...e é isso que nos torna seres tão incrivelmente sedutores e apaixonantes!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

PLOFT!

Divido o silêncio atordoante da madrugada
com amigos nada convencionais
e muito menos bem vindos
Soturnos, escondidos...
em suas cascas, casas, esconderijos
secretos e subterrâneos
asquerosos, escrotos, subcranianos...

Por trás das frestas são parasitas famintos
vivem no lixo, prolixos... reviram o estômago
espreitam pelos vãos suas vítimas
vão sugando...sangue-sugas
sugam...secam...cegam
engôdo em pele de insetos
asquerosos, putrídos, ordinários.

Uma barata passa correndo...
lá vai ela, esfusiante...na sapatilha
sapateio...ploft!

Escorre o sangue pestilento...
morte a todos os parasitas, as peçonhas
e insetos nojentos que insistem
em percorrer, invadir e atasanar minha noite
espreitar e contaminar minha madrugada
atordoar minha mente.

Baratas...aranhas...vermes...ploft!
pernilongos...longos pensamentos...
pensamentos pernósticos
pensamentos vadios...
moscas, varejeiras...ratazanas...pow!
pensamentos...pensamentos...em vãos
pensamentos...pensamentos...vãos.
...
Matei a barata!
Descerebrada, o vão que me conforta
é o espaço entre o verme que atormentava
e a lucidez exacerbada de todos os dias.


Cirúrgico

Com a minúcia de um cirurgião
tomo de um bisturi...afiado, cortante
invisto sobre a pele ardente...arfante...
milimetricamente vou rasgando...abrindo
o vermelho jorra...quente, abundante
preciso estancar...gazes secas, estéreis...
preciso parar de jorrar...
Seco o sangue que verte...lá dentro há vida
ainda há...pulsando...gritando...golpe fatal!
Enfio o bisturi...mato, rasgo, corto em pedacinhos...
já sem vida, junto o que restou do que era
e atiro aos abutres que esperam do lado de fora!

Pronto! Com a imaginação aguçada de um poeta
o sangue frio de um "serial killer", e a astúcia
de um "Alfred Hitchcock"...matei você!
Arranquei do peito, e joguei pros bichos!

Agora o mais fácil...suturar o corte...voltar a viver
e encontrar um novo amor!!
Nada que um "James Cameron" não seja capaz de fazer!

(In)consciência

Quem és tu, vulto sem face, ave soturna?
Lanças olhares de pedra na minha sorte
Fulguras por entre frestas inoportuna
espias feito abutre cheirando a morte.

Estocas teus olhos frios em minha pele
procuras entre meus seios a tua alma
vasculhas por entre os meios o que revele
as linhas que te delatem na minha palma.

Quem és tu, para despir-me, e sem pudores
revelar-me os segredos e os pecados
desferir-me em duro golpe os desamores?

Te afastas agourenta, não tens medida!
És vulto atrás do espelho, renegado
és a negra consciência que me avilta!

domingo, 14 de setembro de 2008

Da minha janela




Foto:
Sheila Tostes



Daqui da minha janela
vejo alamedas floridas
margaridas, violetas
beijos e beija-flores
rosas...ah! Tão belas as rosas!

Daqui da minha janela
vejo e ouço a passarada
tão livres, tão soltos, tão...
tão céu, tão azul
daqui...da minha janela.

Dessa minha janela
não vejo cinza, nem sangue
não vejo o grito nem ouço
o estampido...perdido
daqui, da minha janela.

Dessa minha janela
é, essa que olha ao longe
só o que vejo são sorrisos
alaranjados, furta-cores
sorrisos vivos, sem fome.

E, mesmo quando eu fecho
(a minha janela) ainda assim
ainda assim eu vejo
através, e vejo ainda mais belos
tantos e tantos cenários.

Daqui, da minha janela.

É tão bela essa minha janela!

Ah, quem dera o mundo inteiro
pudesse enxergar através dela!

Daqui...da minha janela...

Quem dera!


Vazio


As palavras silenciam
e ficam lacunas no ar...
Pensamentos soltos
e desordenados
criam asas...
São anjos e demônios
suaves e grotescos...
bem e mal...
Tudo se mistura
funde-se...
no meu silêncio
e o que resta
são sussurros...
ou urros...
num vazio escuro...
medonho...
abissal!

Filosofando


Acredito no saber nato

na intuição, no tato
na lida com o homem
ser complexo
por vezes desconexo
ora apaixonante
ora repugnante
controverso
Acredito no amor bruto
in natura, essencial
do seio materno
ao amor carnal
sentimento visceral
ora redentor
ora destruidor
mas sempre vital
Acredito no homem
ser iluminado
por Deus criado
inquieto
incompleto
inconsistente
imperfeito
obra inacabada
mero conceito
em busca do tudo
ou do nada
que o transforme
que o complete
que o faça perfeito
ou quase.
Acredito na vida
e por acreditar
existo...mais que isso
insisto...em
simplesmente
Ser.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Passarinhando (ou Quintaneando)

Foto: Dulce Helfer


O tempo é escasso e as horas são vazias

há tanto o que fazer...e o tempo passa
O tempo é escasso e as horas são vazias

As areias da ampulheta escorrem aos olhos

O tudo se amontoa...e o tempo voa
nas horas vazias o nada me impregna
O tempo é escasso e as horas são vazias

Os ponteiros do relógio nunca param

Há tanto o que fazer...e o tempo passa
Sinto-me cheia, plena, abarrotada...do nada
O tempo é escasso...mas as horas...
as horas são tão vazias!

A vida urge, o mundo urge, o amor urge!

Tanto, tanto a fazer...e o tempo...passa...
E as horas são vazias...e o tempo é escasso...
e a areia escorre...e o nada se amontoa
e eu me sinto cheia...de tudo e de nada!

Mas a vida urge...
E o tempo voa...
E o nada, e o tudo, e as horas

Passam!

Eu...passarinho!

O peso do mundo II



Garimpo em meio a escombros

pedaços, restos, marcas, rastros
do que um dia foi, pros ombros
cansados...fardo pesado, infausto!

Tirei dos ombros o peso do mundo
fiz-me de rogada, deixei-me largada
rolou e desmanchou-se...submundo
abaixo de mim...alívio, alma lavada!

Mas levou-me a bancarrota...arrancou
de mim pedaços...partes de pouca monta
supunha na insana conta...nada restou
a não ser a falta absurda, que afronta.

O que busco nos escombros? Não sei.
Há muito que nada sei...desde que dei
de ombros ao mundo...deixando ruir assim
com ele, partes...parcas partes de mim.

Nos teus braços



Suavemente adormeço...incólume, serena

envolta numa querência tanta...tamanha
que não há dragões de fogo, ou gladiadores
nem monstros marinhos, ou desamores
capazes de perturbar uma paz tão plena!

Sinto-me protegida...por teus braços enlaçada
livre de todo perigo...distante de todo temor
presa no teu abrigo...liberta por teu amor!

Ah! Este abraço bendito!
Grilhão em flores forjado...calabouço tão desejado!
Prisão que me torna livre...nos braços do meu amado!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Como dois querubins


Hoje os meus olhos cruzaram mar
desbravaram um oceano sem fim
fitaram o azul dos olhos teus
que colhiam estrelas no céu
para enfeitar o meu jardim!

Ofertou-me os teus jasmins
num ramalhete de puro lume
flertou comigo, cobriu-me
entrelaçou-me em teus braços
banhou-me do teu perfume!

Feito dois querubins incólumes
adormecemos à maresia
nus dos nossos pecados
pelo nosso amor banhados
abençoados pelo novo dia!


Entalhe


Vida na roça é dureza. Mãos calejadas, coração que sangra, sol que escalda a fronte fazendo doer o não ter.
Sol que se levanta antes, Lua que se adianta. Cantoria no terreiro que redime o pouco que sobra do corpo cansado e surrado.Sob a luz da lua, vão se entoando as amarguras, tristezas, desalentos, e corpo e alma ficam um pouco mais leves.
Passa o tempo, a vida urbana substitui e ajeita o sem jeito da roça. Vêm os filhos, os netos, a rotina, a solidão da cidade, cimento armado sem verde, sem veias, sem cheiro, sem sabor.
Fica o gosto da terra, a lembrança doída dos árduos tempos, ruins e malfadados, trocados pela esperança de vida nova, com cheiro de uma saudade que não se compreende.

A herança roceira, caipira, não abandona o coração cansado do sertanejo novo, urbanizado. Chega um dia, em que busca-se o retorno, não ao chão que se deixou para trás, mas às raízes guardadas na memória.
Entre o asfalto escaldante e o movimento incontido das grandes cidades, busca-se um pedaço de terra, algo que aquiete o velho coração insatisfeito com as novidades da vida "muderna". Vida nova, com cheiro de mato, era isso que se queria o tempo todo. Era isso que minha mãe sonhava, e foi esse sonho que a vi cultivar durante toda minha vida.
No terreno ainda cheio de mato, o sonho vai tomando forma. Aos poucos, as mãos cansadas e ansiosas, vão moldando o que será um canto para conter lágrimas, cantorias, cheiro de roça, comida caipira. Coisa boa.

Minhas mãos também se cansaram nessa peleja, muitas vezes. Mas não doíam, era um cansaço satisfeito, com cheiro de chuva fresca, terra molhada, e som dos cantores da floresta. Não tenho no meu baú de lembranças som melhor do que esse.
Nas visitas aos fins de semana, podíamos acompanhar o andar da "carroça".
Paredes sendo levantadas, pés de frutas, aguadas. Um veio d'água fervilhando, vida que saltava aos olhos, e ,que pelas mãos de minha mãe, ia se abrindo e apontando em direção ao rio. Um sonho que se erguia entre rugas que se formavam.

Na matula que se aprontava para a viagem, marmitas prontinhas. Não havia fogão, nem gás, nem lenha ainda. Na hora de saciar a fome, reunía-mo-nos na escadinha da cozinha, degraus rústicos e mal feitos,comida caipira, cheirosa e saborosa. Como saboroso era aquele momento.

De repente, uma surpresa desajeitada. Na correria de aprontar-se, mamãe esqueceu os talheres. Como é que se come? Dúvidas tipicamente urbanas, ao que a velha vózinha, do alto de sua sapiência matuta, responde com um leve riso, e um tanto de ironia de quem se ri do despreparo dos mais jovens.

Senta-se à porta, aponta ao fundo do terreno cheio de mato, e pede, quase ordenando: "Cumpade, pega aquele bambu lá no fundo!" Troca de olhares indagando, e o cumpade(meu paizinho) obedece ligeiro que só, não convém triscar com a sogra.
Em poucos minutos, a vida mostra que a arte está onde há alma, memória, e sentido de ser.
As mãos calejadas e enrrugadas pelo tempo, tomam uma pequenina faquinha e vão, devagar e encantadoramente moldando do pedaço de bambú, pequenas colheres. Uma à cada um, personalizadas e únicas. Lindo trabalho artesanal, aprendido na escola da vida. O melhor dos sabores, a comida mais gostosa, um momento que marca minha memória, finca pé no meu coração, deixa cheiro e gosto de saudades.

E a vida segue seu rumo. Penso nos meus filhos, e nos filhos dos meus filhos,que vão aos poucos perdendo pedaços de uma história que não está nos livros. Talvez esteja um dia, mas as letras são incompletas, registram as memórias, mas não as tem. E não mostram o que está nas entrelinhas, muito menos o que há depois das reticências.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Filhotes são assim...(Meu LO com o Kit True Colors)





Créditos:

Programa: Psp 8
KIT TRUE COLORS
Keka - http://darkmorgann.blogspot.com
Fontes: Curlz MT
Day Dreams

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Esse é o LO que eu fiz pro CT da Keka:




Créditos:
Programa: Psp8
Kit This is me - Lurid Muse
Kit Shabby Princess - Two Soon
Kit Paper Pack - by Tábata
Laço Crazziii Shortiii
Tag KBFriends
Fonte: ATNadianne-Book

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Em meio ao nada

No asfalto quente uma fresta que rompe
água da chuva, restos, poeira
acúmulo, adubo sem eira
aos poucos um resquício de vida
desponta, aponta, resiste

Entre largas passadas da vida agitada
pés descalços
biroscas, peladas
pipas içadas, cortantes
balas perdidas, vidas ceifadas

Brota o verde, sobrevivente imponente
como a tentar proteger
desafiando leis
rasgando cimento armado
mostrando a força que tem

E, em meio à tantas agruras
do dia a dia massante,
dessa luta impávida
desse viver desgastante
ecoa da fresta um grito
mudo, calado
exaurido

O grito da esperança
que cala, mas nunca se cansa!