Em cruz, lanço-me suavemente ao sabor do vento
sou tal qual as folhas outonais em queda livre,
cerro as janelas d'alma, deixo que o ar puro me invada,
respiro, absorvo, colho com as mãos o suor das nuvens
que me saúda molhando a fronte, em pequenas gotas orvalhadas.
Misturo os sons, embaralho os tons,desenho mil sóis,
gorjeios de pássaros viram girassóis que viram botões
botões de flor, que se abrem em coachos de pequenos batráquios,
pirilampos iluminam o furta-cor das flores, que perfumam as gotas
que molham meus pés sobre a terra fofa.
Da terra me vem o aroma fresco da chuva anunciada pelas gotas serenas,
da casa me vem o sabor através da fumaça cheirosa, dos negros grãos,
que as negras mãos trataram e destilaram em pano alvo e grosso,
tecido, costurado, encaixado no bule espelhado pelas mesmas mãos.
Na copa frondosa do pinheiro, vida que se faz anunciada.
O pequenino ninho guarda cuidadosamente o que será uma dádiva,
a noite cai, a casa se acomoda, e o novo dia aguarda ansioso.
Desperta-se ao som do cantor mor, garboso e viril,
e ao aroma da noite orvalhada que se vai no encalço do vento.
No pinheiro altivo e orgulhoso, ouve-se o novo som do novo dia.
Vida que salta aos olhos, milagre da natureza, amor em forma de beleza.
Como são lindos os filhotes de beija-flor.