Ouve amor?
É nossa canção.
Dança comigo agora
cola teu corpo ao meu
e, de olhos fechados
sente-me arder
na infinita alegria
de me saber tua.
Toma meus lábios.
Dá-me t...
Uma lágrima incontida deixa cair-se sobre a folha, manchando as letras e interrompendo a leitura. As mãos ocupadas nada podem fazer. Numa delas o diário, pesado demais para tanta fragilidade, e a outra, segura com carinho a mão de quem foi durante cinquenta anos seu companheiro de versos e de vida, mão cansada e marcada pelo tempo. Fraca, flácida e de uma palidez translúcida, mas quente o suficiente para uma última carícia.
Um sussurro. Continua meu amor, só mais este.
Os olhos marejados voltam-se para o papel, e a voz agora mais fraca continua o poema:
Dá-me tua língua
sedenta de mim.
Mergulha-a na minha boca
sorvendo todo mel.
Deita-me em ti
deixa aninhar-me em teus braços
acalanta-me agora.
Prepara meu corpo que é hora
de possuir-me.
Só tu tens esse direito
só tua sou de bom grado.
Vem com tua paixão ardente,
transforma meu corpo quente
na tua última morada.
Vem meu amado.
Um arrepio, um aperto forte no peito, quase uma súplica, trazem um sentimento de medo, dor, tristeza e saudades.
O som agudo e a linha reta do monitor cardíaco, confirmam que a poesia acabou. Ela fecha o diário, segura firme a mão já sem vida, mas que conserva ainda seu calor, e verte. Não lágrimas, mas versos.
É nossa canção.
Dança comigo agora
cola teu corpo ao meu
e, de olhos fechados
sente-me arder
na infinita alegria
de me saber tua.
Toma meus lábios.
Dá-me t...
Uma lágrima incontida deixa cair-se sobre a folha, manchando as letras e interrompendo a leitura. As mãos ocupadas nada podem fazer. Numa delas o diário, pesado demais para tanta fragilidade, e a outra, segura com carinho a mão de quem foi durante cinquenta anos seu companheiro de versos e de vida, mão cansada e marcada pelo tempo. Fraca, flácida e de uma palidez translúcida, mas quente o suficiente para uma última carícia.
Um sussurro. Continua meu amor, só mais este.
Os olhos marejados voltam-se para o papel, e a voz agora mais fraca continua o poema:
Dá-me tua língua
sedenta de mim.
Mergulha-a na minha boca
sorvendo todo mel.
Deita-me em ti
deixa aninhar-me em teus braços
acalanta-me agora.
Prepara meu corpo que é hora
de possuir-me.
Só tu tens esse direito
só tua sou de bom grado.
Vem com tua paixão ardente,
transforma meu corpo quente
na tua última morada.
Vem meu amado.
Um arrepio, um aperto forte no peito, quase uma súplica, trazem um sentimento de medo, dor, tristeza e saudades.
O som agudo e a linha reta do monitor cardíaco, confirmam que a poesia acabou. Ela fecha o diário, segura firme a mão já sem vida, mas que conserva ainda seu calor, e verte. Não lágrimas, mas versos.